terça-feira, 30 de outubro de 2007

Metade




Que a força do medo que tenho

Não me impeça de ver o que anseio;

Que a morte de tudo em que acredito

Não me tape os ouvidos e a boca;

Porque metade de mim é o que eu grito,

Mas a outra metade é silêncio...

Que a música que eu ouço ao longe

Seja linda, ainda que tristeza;

Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada

Mesmo que distante;

Porque metade de mim é partida

Mas a outra metade é saudade...

Que as palavras que eu falo

Não sejam ouvidas como prece

E nem repetidas com fervor,

Apenas respeitadas como a única coisa que resta

A um homem inundado de sentimentos;

Porque metade de mim é o que ouço

Mas a outra metade é o que calo...

Que essa minha vontade de ir embora

Se transforme na calma e na paz que eu mereço;

E que essa tensão que me corrói por dentro

Seja um dia recompensada;

Porque metade de mim é o que penso

Mas a outra metade é um vulcão...

Que o medo da solidão se afaste

E que o convívio comigo mesmo

Se torne ao menos suportável;

Que o espelho reflita em meu rosto

Um doce sorriso que me lembro ter dado na infância;

Porque metade de mim é a lembrança do que fui,

A outra metade eu não sei...

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito

E que o teu silêncio me fale cada vez mais;

Porque metade de mim é abrigo

Mas a outra metade é cansaço...

Que a arte nos aponte uma resposta

Mesmo que ela não saiba

E que ninguém a tente complicar

Porque é preciso simplicidade para faze-la florescer;

Porque metade de mim é platéia

E a outra metade é canção...

E que a minha loucura seja perdoada

Porque metade de mim é amor

E a outra metade... também.


(Oswaldo Montenegro)
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Foto e poema enviados por: Andjara.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Soneto do Amor Total





Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade..
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade

Amo-te afim, de um calmo amor prestante,
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente,
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim muito e a miúde,
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.



(Vinícius de Moraes)



domingo, 21 de outubro de 2007

Solo de Clarineta




Desde que, adulto, comecei a escrever romances, tem-me animado até hoje a idéia de que o menos que o escritor pode fazer, numa época de atrocidades e injustiças como a nossa, é acender a sua lâmpada, fazer luz sobre a realidade de seu mundo, evitando que sobre ele caia a escuridão, propícia aos ladrões, aos assassinos e aos tiranos. Sim, segurar a lâmpada, a despeito da náusea e do horror. Se não tivermos uma lâmpada elétrica, acendamos o nosso toco de vela ou, em último caso, risquemos fósforos repetidamente, como um sinal de que não desertamos nosso posto.


(Érico Veríssimo)


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Enviado por: Melécio

sexta-feira, 19 de outubro de 2007


Bendito aquele que semeia
Livros...livros à mão cheia
E manda o povo pensar.
O livro caindo n'alma
É germe - que faz a palma
É gota - que faz o mar
(Castro Alves)
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Enviada por: Melécio

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

PassaTempo



No seu colo, já?!

No dentista, ainda!?

O relógio é enfeite demente.

O tempo, maratonista

Ou aleijado,

Corre ou se arrasta

No sentir da gente.

(Ulisses Tavares)